2 de agosto de 2014

Serás o fim?

Serás o fim
De uma história que nem começou
Dos prazeres e dos sonhos
Sem salvação ou surpresa

Podes imaginar?
Livre e sem limite,
Talvez presa a convenção social
A suplicar por uma mão amorosa
Numa terra conhecida e simpática?

Perdida no amor
Com todos loucos a sua volta
Segurando armas e querendo dinheiro
Para comprar bens, para comprar o mundo, para comprar o amor
E prestes a brigar
Com raciocínios formulados a priori
Sem a imagem do pensando
Apenas com assimilações equivocadas
E metamorfoses misteriosas, como Gregor
Kafkiano perturbado pelos outros
Insensível e animal
Culpado e inocente

Amanda,
O teu corpo és o caminho
Como faço para chegar a ti?
Estou preso a um labirinto
Sem condições e nem expectativas de ser resgatado

Ela veio até a porta e disse:
-  nosso tempo acabou. Precisamos voltar ao jogo
No quarto em que nos amamos...  eu falei:
- eu quero fodê- la novamente

Vamos meu amor, precisamos de uma chance
Encontre-me quando estiveres fora desta prisão
Pensando, divagando, angariando, desejando,
Eu estarei debruçado sobre as páginas da sabedoria
Segurando um lápis e com a mente transbordando amor

Na Idade Média, o fim
Na Idade Moderna, o fim
Machuca-me te ver como um simples objeto de uso
Mas tu nunca me seguirás nesta estrada

Minha dama cintilante e passageira, o fim
Amor e tristeza, o fim
O fim da madruga e o início da manhã
O fim do amor e os primórdios da guerra

Serás o fim?

25 de julho de 2014

Talvez algum dia

O beijo,
Carne com carne,
Languido, abatido,
À percepção sentimental

Refrescante,
Rejuvenescente,
Realmente,
Real

Concreto, e flácido
Minha alma derretida
Meu emaranhado partido
Tua ternura abatida
Ao acaso

Ideologias, crenças,
Mistérios abstratos,
Alienáveis

Beijar-lhe-ei algum dia
Talvez na rua
Repleta de faces e objetos

Ou no quarto tácito 

16 de julho de 2014

Lembro-me

Lembro-me do teu corpo
Das tuas medidas
Do teu cheiro
Da sua voz

Lembro-me dos teus olhos esverdeados
Dos teus cabelos castanhos
Das tuas nádegas voluptuosas
Dos teus seios delicados

Lembro-me da tua vagina
Dos teus lábios
Das tuas pernas desenhadas

Lembro-me do teu piercing
Que realçava
O teu bojo

Lembro-me da minha explosão
De prazer
Dentro de ti

Tu não explodiste
Eu sei
Em função do teu trabalho

Trabalho tão falado
Esse
Mas incrivelmente importante

À formação masculina

Hoje e amanhã

Ela tinha cabelos castanhos
Olhos esverdeados
Sorriso amigo
Voz rouca e serena.

Foi incrível
Tudo aconteceu rapidamente
Hoje estou aqui
Escrevendo poemas
Na solidão.

Amanhã
Estarei aqui
Escrevendo

Na solidão.

20 de maio de 2014

Lá fora


Lá fora o céu anuncia que irá chover

Ligo um jazz,

Fumo,

Bebo,

Um pouco de café

Pra ver se fico ligado

Ligado?

Os jornais

Falaram

Que o mundo

É um péssimo

Lugar pra se

Viver.

Ninguém ama

Ninguém fala

Ninguém...

... diz uma palavra

Que conforte

As mulheres,

Os seres humanos,

Os seres vivos,

Que habitam

O espaço.

Tudo podia

Ser

Diferente.

Mas

Diferente

Não é

Apenas um

Objeto direto

Do verbo ser?

Ela


Ela

Me disse,

Caralho... como

Você é chato,

Eu nada lhe falei.

Apenas ouvi

E fiquei quieto.

Às vezes

Falamos demais

Sem ter a mínima precisão,

Falamos porque falamos

Que merda é essa?

Não sei

Ninguém sabe,

O filosofo disse

Que o inferno

São os outros.

O inferno,

Talvez seja

Melhor

Que o céu.

O céu,

Sofre forte apelo

De homens

Com discursos aflorados

Que falam tudo

Mas não sabem de nada.

10 de maio de 2014

Leite, leitura, letras, literatura, tudo

Leite, leitura
letras, literatura,
tudo o que passa,
tudo o que dura
tudo o que duramente passa
tudo o que passageiramente dura
tudo, tudo, tudo
não passa de caricatura
de você, minha amargura
de ver que viver não tem cura..

Paulo Leminski