As vezes caminhar na noite escura alivia todo fluxo de
pensamento desvairado. Não sei quem sou, sei apenas tocar violão e escrever
alguns contos malucos. Por mim passaria toda minha vida fumando e bebendo sem
preocupações, mas o sistema é predador, quando menos se espera, tudo se foi. As
horas passaram. A música parou de tocar, as pessoas foram embora. Talvez
arranjar explicações não resolva de nada minha angustiante situação. Nos
últimos dias vivenciará incertezas, via apenas escuridão no fim do túnel.
Sem palavras perfeitas ou intenções decentes, ansiava apenas
viver na mais plena liberdade que o homem pode desfrutar. Entre meus plenos
estavam garrafas de gim e cigarros baratos, a vida era simplesmente isso: cair
de bêbado nas valetas da vida. Viver é sinônimo de aventura, resta saber que
espécie de aventura é essa. Pode ser uma coisa natural ou um devaneio insano.
Apenas os vagabundos são felizes. Aqueles que relutam em ir
ao trabalho. Aqueles que não se desvencilham da malandragem noturna. Belos
homens com o coração transbordado de energia. Viver é um malabarismo cotidiano,
sem frescuras ou formalidades. Sempre optei pelos incorretos perante essa
sociedade ingrata que vivemos. Eles sim, sabem o verdadeiro significado da
vida. Conhecem profundamente as entranhas e as mazelas do mais macabro cortiço
até os burgueses que nada sabem.
Os momentos nos reservam surpresas fúteis. A cada instante
somos obrigados a nos submeter as mais tenebrosas posturas. Quantas vezes fomos
maléficos com nossos companheiros de luta. Porque viver é simplesmente uma
verdadeira luta, sem direito a repetições do mesmo filme.
Beber nem sempre é algo corriqueiro em meus dias.
Ultimamente venho bebendo doses cada vez maiores, não êxito em afirmar: as
vezes ser sóbrio demais é extremamente prejudicial a nossa inteligência.
As respostas são algo distante do mundo convencional. Ele
cobra apenas atitudes, não importa se são corretas ou antiéticas, quem tem
grana manda, quem não tem, se sujeita a obedecer sem esbravejar. Injustiça
filha da puta essa.
Todos ao meu redor trabalham. Alguns almejam sonhos. Querem
ter filhos para poder posteriormente contar sobre sua juventude, escondendo
passagens importantes como bebedeiras irresponsáveis. Prefiro eu ficar
acompanhado de meu violão sem algum tostão nos bolsos, mas muito amor no
coração. Porque viver é isso.
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