Luis Cernuda foi um dos principais nomes da chamada Geração de 27, ou Geração das Vanguardas, momento em que a poesia modernista espanhola explodia definitivamente como um movimento geral da cultura do país. Este grupo de poetas atuou principalmente em Madri e, além de Cernuda, no núcleo principal desta geração também incluem-se poetas como Federico García Lorca, Jorge Guillén, Rafael Alberti, Pedro Salinas, Manuel Altolaguirre, Dámaso Alonso, Emilio Prados, Vicente Aleixandre e Gerardo Diego. Esta relação, porém, poderia ser ampliada para mais algumas dezenas de poetas que iniciaram sua atividade sob a influência da crise revolucionária européia.
O evento que marca a “revelação” destes jovens poetas para o restante do país, foi uma homenagem realizada naquele ano para o poeta renascentista Luis de Góngora por ocasião dos 300 anos de seu nascimento, o representante maior na poesia do chamado Século de Ouro da literatura espanhola.
A maior parte dos principais nomes desta geração participou do evento sediado em Sevilha, na que foi provavelmente a primeira reunião formal destes poetas que tinham grande identificação em seus temas e influências.
A crise revolucionária na Espanha
A crise espanhola no século XX remete diretamente às lutas nas colônias americanas por sua independência, que teve impactos imediatos no nível de vida da população da metrópole.
Em 1902, ao completar 16 anos, Afonso XVIII assumiu o comando da decadente monarquia espanhola. Durante os anos da regência, a crise espanhola já havia se iniciado com toda força, abalada pelas revoluções em Cuba, Porto Rico e Filipinas, que passaram todas ao controle dos Estados Unidos.
Durante os primeiros anos do reinado de Afonso XVIII, uma nova crise diplomática leva à perda do controle espanhol sobre o Marrocos, que se torna a partir de então um protetorado do imperialismo francês.
A crise nacional da monarquia nos anos seguintes levaria, em 1923, a burguesia espanhola a organizar um golpe de Estado com respaldo do próprio rei. Começava aí a sangrenta trajetória do fascismo espanhol, sob comando do ditador Miguel Primo de Rivera.
O novo governo iniciou um vigoroso processo repressivo no país, prendendo, torturando e assassinando centenas de pessoas, principalmente militantes das organizações do movimento operário, anarquistas e comunistas.
Após o período inicial de terror, o governo adquiriu certa estabilidade e agrupou em torno de si todas as alas mais reacionárias do regime em torno do partido fascista União Patriótica. A etapa seguinte foi a lançar uma ofensiva militar para retomar o Marrocos, que é bem sucedida e garante a substituição da política repressiva de maior intensidade por um governo mais brando. Foi formado aí um Parlamento de fachada que iria elaborar uma Constituição formal sob os moldes fascistas, garantindo a supressão de qualquer organização operária no país.
Precisamente neste momento de estabilização do regime e afrouxamento dos aparatos repressivos vêm à tona o gigantesco descontentamento nacional na forma de grandes manifestações contra o governo. É aí também que surgem os poetas da Geração de 27, cujo radicalismo político se expressava na forma de um radicalismo formal de sua poesia.
As mobilizações contra o governo levaria a uma crise terminal no regime, que é obrigado a operar uma reabertura democrática com as mesmas figuras que davam sustentação à ditadura, e, em primeiro lugar, a monarquia de Afonso XIII.
A obra de Luis Cernuda foi um produto da crise deste período. Nascido em 1902 e filho de militar, Cernuda entrou em contato com o ambiente literário espanhol em 1919, através de sua amizade com o poeta Pedro Salinas. Foi ao mudar-se para Madri que ele conhece também alguns dos melhores poetas da nova geração. Sua principal influência nestes anos, além da tradição clássica espanhola, eram os novos nomes da poesia francesa. Teve particular influência sobre ele a obra de André Gide, mas, em pouco tempo, assimilava também influências importantes do surrealismo, através dos escritos de Paul Éluard Pierre Reverdy, que definiriam a identidade de sua poesia.
Em 1925 ele publica seus primeiros poemas em jornais literários, e um ano mais tarde, com o resfriamento da censura torna-se colaborador de jornais liberais, como La Verdad e Mediodía y Litoral.
Seu primeiro livro é publicado exatamente no ano de 1927, quando esta geração se revela à população em geral. Sua obra de estréia é Perfil del aire, escrito em um estilo que combinava o classicismo espanhol com os versos livres modernistas. Mais bem sucedidos são seus livros de influência surrealista, Un río, un amor, de 1929; e Los placeres prohi-bidos, de 1931. Tais textos, porém, eram ainda um período de preparação do poeta, que publica sua primeira obra-prima em 1933, Donde habite el olvido, apresentando um conjunto de poemas em que Cernuda encontra a própria voz, em versos melancólicos e intimistas. É desta fase um de seus poemas mais popularmente conhecidos em seu país, a poesia que empresta seu nome ao livro, Donde habite el olvido.
Ele atuaria nos meses seguintes como jornalista na Guerra Civil e também como soldado, apresentando-se como voluntário em um regimento de alpinista na Serra de Guadarrama.
Cernuda participa dos conflitos até 1938, quando ele parte para um ciclo de conferências na Inglaterra, sobre a nova poesia espanhola. Ele nunca mais voltaria ao seu país. Sua saída do país não foi um caso isolado, mas um fenômeno geral. A luta contra o fascismo espanhol dispersou completamente os integrantes do grupo, que seguiria cada um por um caminho diferente a partir daí. O afastamento de Cernuda nos anos seguintes se reflete em seus versos na consolidação de uma tendência altamente subjetiva, concentrada em temas ligados ao seu isolamento pessoal.
Cernuda viveria na Inglaterra até o término da Segunda Guerra. Em 1947 ele se instala nos Estados Unidos, e, a partir de 1951, se instala no México, onde reside até sua morte, em 1963.
Fonte: http://www.pco.org.br/conoticias/ler_materia.php?mat=32178
O evento que marca a “revelação” destes jovens poetas para o restante do país, foi uma homenagem realizada naquele ano para o poeta renascentista Luis de Góngora por ocasião dos 300 anos de seu nascimento, o representante maior na poesia do chamado Século de Ouro da literatura espanhola.
A maior parte dos principais nomes desta geração participou do evento sediado em Sevilha, na que foi provavelmente a primeira reunião formal destes poetas que tinham grande identificação em seus temas e influências.
A crise revolucionária na Espanha
A crise espanhola no século XX remete diretamente às lutas nas colônias americanas por sua independência, que teve impactos imediatos no nível de vida da população da metrópole.
Em 1902, ao completar 16 anos, Afonso XVIII assumiu o comando da decadente monarquia espanhola. Durante os anos da regência, a crise espanhola já havia se iniciado com toda força, abalada pelas revoluções em Cuba, Porto Rico e Filipinas, que passaram todas ao controle dos Estados Unidos.
Durante os primeiros anos do reinado de Afonso XVIII, uma nova crise diplomática leva à perda do controle espanhol sobre o Marrocos, que se torna a partir de então um protetorado do imperialismo francês.
A crise nacional da monarquia nos anos seguintes levaria, em 1923, a burguesia espanhola a organizar um golpe de Estado com respaldo do próprio rei. Começava aí a sangrenta trajetória do fascismo espanhol, sob comando do ditador Miguel Primo de Rivera.
O novo governo iniciou um vigoroso processo repressivo no país, prendendo, torturando e assassinando centenas de pessoas, principalmente militantes das organizações do movimento operário, anarquistas e comunistas.
Após o período inicial de terror, o governo adquiriu certa estabilidade e agrupou em torno de si todas as alas mais reacionárias do regime em torno do partido fascista União Patriótica. A etapa seguinte foi a lançar uma ofensiva militar para retomar o Marrocos, que é bem sucedida e garante a substituição da política repressiva de maior intensidade por um governo mais brando. Foi formado aí um Parlamento de fachada que iria elaborar uma Constituição formal sob os moldes fascistas, garantindo a supressão de qualquer organização operária no país.
Precisamente neste momento de estabilização do regime e afrouxamento dos aparatos repressivos vêm à tona o gigantesco descontentamento nacional na forma de grandes manifestações contra o governo. É aí também que surgem os poetas da Geração de 27, cujo radicalismo político se expressava na forma de um radicalismo formal de sua poesia.
As mobilizações contra o governo levaria a uma crise terminal no regime, que é obrigado a operar uma reabertura democrática com as mesmas figuras que davam sustentação à ditadura, e, em primeiro lugar, a monarquia de Afonso XIII.
A obra de Luis Cernuda foi um produto da crise deste período. Nascido em 1902 e filho de militar, Cernuda entrou em contato com o ambiente literário espanhol em 1919, através de sua amizade com o poeta Pedro Salinas. Foi ao mudar-se para Madri que ele conhece também alguns dos melhores poetas da nova geração. Sua principal influência nestes anos, além da tradição clássica espanhola, eram os novos nomes da poesia francesa. Teve particular influência sobre ele a obra de André Gide, mas, em pouco tempo, assimilava também influências importantes do surrealismo, através dos escritos de Paul Éluard Pierre Reverdy, que definiriam a identidade de sua poesia.
Em 1925 ele publica seus primeiros poemas em jornais literários, e um ano mais tarde, com o resfriamento da censura torna-se colaborador de jornais liberais, como La Verdad e Mediodía y Litoral.
Seu primeiro livro é publicado exatamente no ano de 1927, quando esta geração se revela à população em geral. Sua obra de estréia é Perfil del aire, escrito em um estilo que combinava o classicismo espanhol com os versos livres modernistas. Mais bem sucedidos são seus livros de influência surrealista, Un río, un amor, de 1929; e Los placeres prohi-bidos, de 1931. Tais textos, porém, eram ainda um período de preparação do poeta, que publica sua primeira obra-prima em 1933, Donde habite el olvido, apresentando um conjunto de poemas em que Cernuda encontra a própria voz, em versos melancólicos e intimistas. É desta fase um de seus poemas mais popularmente conhecidos em seu país, a poesia que empresta seu nome ao livro, Donde habite el olvido.
Ele atuaria nos meses seguintes como jornalista na Guerra Civil e também como soldado, apresentando-se como voluntário em um regimento de alpinista na Serra de Guadarrama.
Cernuda participa dos conflitos até 1938, quando ele parte para um ciclo de conferências na Inglaterra, sobre a nova poesia espanhola. Ele nunca mais voltaria ao seu país. Sua saída do país não foi um caso isolado, mas um fenômeno geral. A luta contra o fascismo espanhol dispersou completamente os integrantes do grupo, que seguiria cada um por um caminho diferente a partir daí. O afastamento de Cernuda nos anos seguintes se reflete em seus versos na consolidação de uma tendência altamente subjetiva, concentrada em temas ligados ao seu isolamento pessoal.
Cernuda viveria na Inglaterra até o término da Segunda Guerra. Em 1947 ele se instala nos Estados Unidos, e, a partir de 1951, se instala no México, onde reside até sua morte, em 1963.
Fonte: http://www.pco.org.br/conoticias/ler_materia.php?mat=32178
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