ANOS 60- O INÍCIO NA POMPÉIA...
É absolutamente impossível falar em Rock brasileiro sem que o MADE IN BRAZIL não seja lembrado, afinal, a troupe liderada por Oswaldo Vecchione contribui há 30 anos com a mais autêntica de todas as facções do Rock: o bom, velho e irresistível Rock ‘n’ Roll, sem nunca deixar de lado o Blues.
Os irmãos Vecchione, Oswaldo e Celso, moravam na Pompéia, bairro de classe média na zona oeste de São Paulo e “Meca” dos roqueiros paulistas. Pois foi lá também que os irmãos Arnaldo e Sérgio Dias fundaram “Os Mutantes”, juntamente com Rita Lee, que depois viria a formar o “Tutti Fruti ”, com Luiz Carlini e Lee Marcucci. Mais recentemente, André Christovam manteve a tradição do bairro em gerar sempre grandes feras e bandas de rock e blues.
Foi na Pompéia que os irmãos Vecchione descobriram o rock e o blues, ouvindo e colecionando discos de 78 rotações de Elvis Presley, Jerry Lee Lewis, Little Richard e, em especial, “Bill Haley and His Comets”, que vieram ao Brasil no final dos anos 50 fazer algumas apresentações em São Paulo. Foi assistindo a um desses shows, televisionados pela TV Record (SP), que os “Vecchione Brothers” tomaram a mais importante decisão de suas vidas: formar uma banda pra tocar Rock ‘n’ Roll!!!
Entretanto, até conseguirem os violões elétricos que tanto queriam, muita água rolou pelo Rio Tietê...
Em 63, Celso descola um violão comum e resolve estudar música numa escola. Só consegue agüentar umas 3 aulas, pois o professor só queria ensinar Bossa Nova e uns sambinhas sem vergonhas. É lógico que não deu pedal!!! Mas a salvação da lavoura logo aparece, quando Celso faz amizade com dois guitarristas da Pompéia, o “Bororó” e o “Pataca”,e começa a receber uns toques e dicas que repassa para Oswaldo. O processo de aprendizagem se acelera, com mais dicas e conselhos de Sérgio Dias, que já era nessa época um mestre na guitarra.
Logo depois, Oswaldo e Celso, ao invés de pagarem as mensalidades do colégio, usam o dinheiro para comprar um amplificador e uma guitarra “Rei” de segunda mão. Resultado: quase foram expulsos de casa!.
Nessa época, o rock solado, sem vocal, tipo The Ventures, The Shadows, Duane Eddy, etc, estava começando a cansar, e o rock ‘n’ roll começou a pintar novamente com muita força. Era o início da invasão inglesa, com muitas bandas, dando uma roupagem nova às músicas de Chuck Berry, Little Richard, Jerry Lee Lewis, Buddy Holly, entre outros.
Celso, que já arriscava alguns solos e já estava ensaiando e tocando em um grupo de rock, “Eduardo e seus Menestréis”, e Oswaldo, que havia aprendido a fazer ritmo na guitarra, tomam coragem e resolvem dar o pontapé inicial num grupo de rock. Para isso recrutam 3 amigos da escola: para a bateria chamam Celso “Cebolinha”, que havia estudado no ginásio com Oswaldo e que tinha uma bateria (coisa rara na época). Albert Seid foi convidado a assumir o contra-baixo, e para os vocais chamaram Cornélio de Aguiar Neto (os dois últimos estavam estudando no Colégio Oswaldo Cruz com Celso e Oswaldo).
O pai dos garotos, seu Oswaldo, vendo que eles progrediam rapidamente e que estavam realmente levando a coisa a sério, resolveu dar uma força e comprou, para incentivá-los, 2 amplificadores profissionais.
No primeiro ensaio não oficial do MADE IN BRAZIL, os músicos tiveram a colaboração de Serginho (Mutantes), que veio dar umas noções gerais de como estruturar um ensaio e inclusive fez a guitarra-solo, já que Celso não pôde estar presente (estava em reunião com o pessoal do grupo de rock “Eduardo e seus Menestréis”- Jabaquara-SP, se desligando do grupo).
A 1A MÚSICA, O 1o ENSAIO:
A primeira música ensaiada foi “Wild Thing ”, do grupo inglês “The Troggs”. Estiveram presentes neste ensaio Oswaldo – guitarra-ritmo, Celso “Cebolinha” - bateria, Albert Seid - baixo, Cornélio - vocal e Serginho – guitarra-solo. Já no 2º ensaio o MADE pode contar com Celso na guitarra-solo.
Arnaldo Dias também ajudou Cornélio, tirando dos discos as letras das músicas que seriam ensaiadas pelo grupo. O MADE IN BRAZIL retribuía a gentileza cedendo amplificadores de guitarra e contra-baixo para Os Mutantes usarem em shows.
A partir desses dois primeiros ensaios, o grupo começou a ensaiar um repertório com músicas de seus ídolos: The Animals, Ray Charles, The Who, The Kinks, The Dave Clark Five, The Rolling Stones, etc... Esse primeiro repertório foi estruturado com mais de 60 músicas ensaiadas, sendo alguns blues tradicionais e muitos rhythm ‘n’ blues e rock ‘n’ roll.
A idéia do nome surgiu a partir de uma lista elaborada pelos músicos, com mais de 100 sugestões. Entre elas, as mais votadas foram “PINK PIGGS”, “BEAT UP” e “MADE IN BRAZIL”. Acabaram optando por MADE IN BRAZIL, que foi bolado por Oswaldo, que era uma espécie de gozação, já que a postura e imagem do grupo estavam mais para uma banda européia do que para o país do Samba!!!
1A VEZ - E NEM DOEU!
Depois de algum tempo só ensaiando, Oswaldo, Celso e “Cebolinha” resolvem fazer algumas modificações no grupo e convidam um outro amigo de colégio para assumir o lugar de Cornélio, e o vocal principal da banda quem aceitou o desafio foi outro músico da Pompéia, José Antônio Binda, que além de cantar bem e ter uma dicção e pronúncia do inglês perfeitas, tocava baixo e guitarra-solo. Com Binda na banda, Albert saiu e Celso e Binda revezavam na guitarra-solo e no baixo.
Os garotos ficaram alguns meses ensaiando e maltratando os ouvidos da vizinhança e já estavam prontos para cair na estrada!
O 1o SHOW - A 1o VEZ NA TV:
A estréia do MADE em shows se deu em um desfile de modas organizado pelos alunos do Colégio Professora Zuleica de Barros (Pompéia- SP) em 67. O desfile foi em um restaurante chinês que se chamava Golden Dragon e ficava no piso superior do Shopping Iguatemi, na Av. Faria Lima, em Sampa.
O MADE se apresentou com a seguinte formação: Oswaldo – guitarra-ritmo, “Cebolinha” na bateria, Celso – guitarra-solo e baixo, Binda - vocal, guitarra-solo e baixo.
Com essa mesma formação o MADE se apresenta também pela primeira vez em um musical de TV, o programa “Julio Rosemberg”, que ia ao ar todo domingo pela extinta TV Tupi (SP), Canal 3, onde se apresentavam conjuntos e artistas de rock da época.
Logo depois, já em 68, novas mudanças na estrutura da banda: Cornelius volta para os vocais, Binda se desliga do grupo, Albert também volta e o MADE resolve inovar convidando Nelson Pavão para fazer a segunda bateria. Nelson, um super baterista para a época, introduziu e desenvolveu a técnica para dois bumbos e três ton-tons no Brasil. Com uma enorme cabeleira estilo “black power”, passa ser a atração da banda, com seus longos solos .
Após alguns shows, Cebolinha saiu do grupo deixando a formação só com uma bateria.
O ano de 68 passa rapidamente, com muitas apresentações do MADE para a colônia americana de SP; foram feitas muitas apresentações nos colégios americanos “Chappel School” e a “Graded School”; festas particulares para os alunos na zona sul, vernissages e shows nas galerias de arte; programas de TV, etc. O ano termina com chave ouro, com a contratação do MADE para uma temporada de 4 fins de semana na boate BOBS, que ficava no centro da efervescência paulistana, a Rua Augusta, que logo vira o point da galera, “Porta de Hospício” da época. Os shows são prestigiados pela vanguarda paulista e brasileira da época; era comum ver entre o público o pessoal da Tropicália, músicos, atores de teatro e de TV, entre outros notáveis, se esbaldando, dançando ao som do MADE.
O MADE passa a se espelhar nos Rolling Stones. Do mesmo modo que o visual e as atitudes de Jagger & Richards e asseclas chocavam o mundo, o MADE abusava para os padrões ainda mais conservadores do Brasil (que estava mergulhado em uma ditadura militar de direita), ostentando cabelos longos, roupas prá lá de extravagantes, super coloridas, enfim uma postura e comportamento agressivo e rebelde fora e dentro do palco. Nos shows os músicos completavam o deboche com uma maquilagem circense e visual hiper sexy .
No show de aniversário de uma rádio de São Caetano do Sul – ABC/SP, o MADE deixa mais de 10.000 pessoas dentro do Ginásio Municipal com a boca aberta literalmente, quando detona um rock pulsante, com uma forte marcação, acompanhados por um “happening” que o pintor e artista plástico Antônio Peticov preparou, pintando o rosto, as mãos e as roupas dos músicos com tinta acrílica, e num blackout total acendeu algumas luzes negras, que chegaram de San Francisco-USA. Essa apresentação foi uma verdadeira loucura, quase provocando medo e histeria entre a multidão presente. Peticov , nessa época, passa a apadrinhar e a convidar o MADE IN BRAZIL para participar de vários shows que produziu, como os Festivais de Rock no Auditório do Jornal Folha de São Paulo, na vernissage da exposição do pintor Rubens Gerchen, na Galeria Art Art, na inauguração da Butique Poster Shopping (Rua Augusta), entre outros...
ANOS 70 - DISCOS E O DESCOBRIMENTO DO BRASIL
No dia 25 de janeiro de 71, o MADE IN BRAZIL é convidado a participar, no Parque do Ibirapuera, do show de aniversário da cidade São Paulo. Nesse dia, outra inovação: durante a execução da música dos Rolling Stones “Sympathy For The Devil”, a banda utiliza uma ala de 10 ritmistas da Escola de Samba Mocidade Alegre da Casa Verde. Nos 20 minutos que durou a música, a fusão “Rock & Samba” do MADE com certeza chegou muito perto da idéia original dos Stones quando gravaram a música .
Nessa época, a figura carismática e andrógina de Cornelius “Lucifer” passa a ser o grande destaque da banda. Ele fez escola, com um grande número de imitadores pelo Brasil .
Em Janeiro de 72 o MADE é convidado novamente para o grande Show de Aniversário de São Paulo, no Parque do Ibirapuera, juntamente com os Mutantes e muitas outras bandas da época. Nesse ano, mais mudanças: Nelson deixa a banda; aí o MADE tenta novamente atuar com dois bateristas, entram Franklin Paolillo e Ricardo Fenili; e no teclado entra Onisvaldo Scavazzini. Rolam muitos shows importantes como os dos Teatro Aquarius, Teatro Oficina e Teatro do MASP.
Teatro da FAAP, Teatro Vereda, Teatro da GV, e aí o grupo descobre um novo filão para as suas apresentações: os Clubes onde passa a atuar com muita freqüência - só no Clube Palmeiras fez mais de 20 apresentações naquele ano.
Achando que já estava na hora, Oswaldo e Celso começam a compor rocks, baladas e blues com letras em português, que passaram a ser executadas nos shows juntamente com os covers e clássicos internacionais que a banda vinha apresentando desde o seu início.
Em 73 Oswaldo deixa a guitarra-ritmo e passa para o baixo; para a 2ª guitarra é convocado outro músico da Pompéia, Wesley “Lely” Noronha. Nesse ano o MADE é contratado como atração fixa do programa da TV Record–SP, “Papo Pop”, que era apresentado pelo DJ e grande divulgador do rock no Brasil: o saudoso BIG BOY. O programa, durante os oito meses em que esteve no ar, apresentou e serviu de vitrine para as bandas e cantores de rock daquela época . Em todos os programas os músicos do MADE se apresentavam maquilados, como faziam desde 69 .
O 1o DISCO:
Em 74 o grupo assina um contrato com a gravadora RCA Discos e grava nos estúdios de São Paulo, em 16 canais, o primeiro disco com o nome “MADE IN BRAZIL”, mais conhecido como o disco da Banana (símbolo que o grupo começou a utilizar como logo-marca). Esse disco foi produzido por Celso e Oswaldo, assim como todos os outros posteriores.
A formação do MADE nesse disco foi: Oswaldo Vecchione - baixo, Celso Vecchione – guitarra-solo, Cornelius “Lucifer” - vocal, Fenili - percussão, Onisvaldo - teclado, Rolando Castelo Júnior - bateria (substitui a Franklin) e Antônio Medeiros “Babalu”, outro guitarrista da Pompéia que entrou no lugar de “Lely ” .
Nesse disco foram gravados alguns clássicos como “Anjo da guarda”, ”Doce”, ”Aquarela do Brasil “, de Ary Barroso, em uma versão rock, ”Vamos todos à festa“, etc...
O disco foi lançado em dezembro em uma série de shows no Teatro Bandeirantes-SP. Em janeiro de 75 o MADE lançou o disco em uma temporada de duas semanas de casa cheia no Teatro Teresa Rachel, no Rio de Janeiro, e na seqüência no Teatro Castro Alves - Concha acústica - Salvador /BA. Foram três dias em que deu pro baiano sacar “O que é que o rock de Sampa tem...”.
Na volta para São Paulo, mais uma série de shows em clubes e teatros, e logo uma crise se instala na banda. Cornelius não segura a onda das viagens e a convivência diária com os outros músicos e é convidado a sair levando consigo o empresário. Júnior também sai, Fenili, o grande coringa da banda na época volta a atacar na bateria, e Percy Weiss é escolhido como vocalista para substituir Cornelius, depois de meses de testes e muitos cantores não aprovados. O pessoal resolve investir em um novo repertório e um novo disco e se interna literalmente em um estúdio de ensaios por quase três meses, só saindo de lá com um novo repertório, com 14 novas músicas prontas e ensaiadas. Depois de muito ensaio & quebra pau, e quebra pau & ensaio e alguns nocautes (o mais famoso certamente foi o do tecladista Maurício “PV - Mão Leve” Pedrosa, nocauteado com potente cruzado de direita no olho por Fenili.
“JACK O ESTRIPADOR” PINTA NO PEDAÇO...
Com essas novas músicas na manga o MADE IN BRAZIL assina um segundo contrato com a gravadora RCA Discos e grava o seu segundo disco, “Jack o Estripador” (76). Na viagem que fizeram a Salvador, o grupo convidou o crítico Ezequiel Neves para viajar junto e assistir aos shows, e o resultado foi uma grande amizade que pintou entre os músicos e Zeca. Jagger (como era mais conhecido no meio roqueiro), que passaria a ser o mais novo membro da banda, uma espécie de irmão mais velho e Guru. Zeca assinou juntamente com os Irmãos Vecchione a produção e direção de estúdio de “Jack o Estripador”
Esse disco só foi gravado depois de muita estrada e muitos shows, onde o repertório foi exaustivamente trabalhado. Muitos amigos convidados participaram das gravações, entre eles Luiz Sérgio Carlini, Roberto “Zezé” de Carvalho, Tony Ozanah, o próprio “ Zeca Jagger”, entre outros.
O MADE lançou o LP “JACK O ESTRIPADOR“ em São Paulo, no Teatro Tuca, em uma semana de shows; a abertura dos shows foi do grupo “A Chave”, de Curitiba. No Rio de Janeiro o lançamento foi feito em outra temporada super badalada, de uma semana, no auditório do MAM (Museu de Arte Moderna), com participação especial nos backings vocals de Ney Matogrosso, Lucinha Turnbull, Silvana e “Zeca Jagger”, que assume de vez sua identidade rockeira, virando “MAIDETE” de carteirinha, para desgosto de seus amigos da crítica mais conservadores. Nessa época, o MADE participa com Rita Lee, Raul Seixas e outros do “Festival de Rock de Saquarema”.
Em S. Paulo, Oswaldo produz e organiza dois super festivais no Ginásio do S. C. Corinthians; o 1º foi eleito o “Show do Ano” pela revista Música por sua primorosa produção, e teve a participação, além do MADE IN BRAZIL, dos Novos Baianos, Pholhas, Sindicato (do cantor/ator Ricardo Petralia), dentre outros. O 2º teve quase 15000 espectadores e a participação de Rita Lee & Tutti Frutti e Zé Rodrix & Banda: o MADE detonou, lógico!!!
Nessa época, já eram patentes registradas do grupo as letras diretas e sarcásticas, a marcação martelada do baixo, sem deixar espaço, e as constantes mudanças no grupo.
MASSACRE - O SHOW :
Em 77, novas composições mesclam-se aos hits da banda e um novo show é montado. O palco é o Teatro Aquários/SP e “MASSACRE” é o nome do show. Uma parafernália em cena, equipamento que deixa na sombra o som do início da banda, até tanque de guerra o MADE colocou no palco, envolvendo a bateria. Na turnê que se inicia, Oswaldo, Celso e Percy contam com a participação de Babalú e Wander Taffo nas guitarras e Juba na bateria, já que Ricardo Fenilli resolveu pendurar as baquetas.
Depois de muitos shows, inclusive uma temporada de duas semanas no Rio de Janeiro, no Teatro Teresa Raquel, novas e radicais mudanças no grupo: saem Wander Taffo e Babalú, entra Dudú Chermont na guitarra. Sai também Juba, voltando Franklin Paolilo para a bateria. Celso e Dudú se revezam no teclado. Com essa formação o MADE excursiona pelo Sul, para lugares em que o rock nunca antes havia passado, como Brusque (SC), Pato Branco, Campo Mourão e Cascavel, todas no Paraná. Essa formação segue tocando até o início de 78, quando numa nova mudança permanecem no grupo Oswaldo e Franklin. Celso deixa a banda pela primeira vez, por divergências musicais, que o levam a seguir novos rumos e a tentar montar uma nova banda. Sai também Percy e entra Caio Flávio para os vocais. Oswaldo convida três garotas para formarem os backings vocals: Tibet, Juju e Lucinha do Valle, com quem era casado na época. Entram também “Nana” e “Natcho” para as guitarras.
“PAULICÉIA DESVAIRADA” - O 3o DISCO:
O rock paulista do MADE explode com o terceiro disco, “Paulicéia Desvairada”, um tributo da banda à cidade de São Paulo, “... que o gerou e alimenta, um poema adolescente cheio de malícia urbana e vontade de sobreviver ao “Way of Life” postiço do subdesenvolvimento não assumido...”, como escreveu na contra-capa do disco o crítico e amigo Okky de Souza. Zeca Jagger, além de backing vocals, co-produziu o disco junto com Oswaldo.
O lançamento de “Paulicéia Desvairada”, se dá num espaço que raramente o rock conseguiu ocupar: o Teatro Municipal de São Paulo (aliás foi a única oportunidade em que o verdadeiro rock ‘n’ roll conseguiu espaço dentro desse espaço cultural tão prestigiado). Foi uma grande festa com lotação esgotada, muita agitação dentro e fora do Teatro, pois ficaram muitas pessoas de fora por falta de lugares.
Nessas apresentações o MADE havia trocado o guitarrista argentino Natcho por outro músico também argentino, Eduardo Depose. Foram convidados ainda para esses shows, Marinho Testone (teclados) e Celso, que fez uma participação especial no baixo em uma homenagem aos Stones.
O lançamento no Rio de Janeiro também foi em Teatro, o Ipanema, numa temporada de duas semanas. O Made ataca pela primeira vez em Mato Grosso, em uma série de concertos realizados em ginásios de esportes, como o Dom Bosco, em Campo Grande, o Ginásio Municipal de Dourados, em Cuiabá e alguns outros.
O ano de 1979 terminou com uma temporada de duas semanas, desta vez no Teatro Ruth Escobar – SP. O MADE atuou com Celso, Naná, o músico norte-americano Breck Heffner nas guitarras, Nelson Pavão novamente na bateria, Oswaldo no baixo, Caio Flavio, Lucinha e Juju nos vocais e uma “striper” detonando e tirando toda a roupa em cena (o nome da fera é Eloá).
79 termina em grande estilo com Oswaldo organizando um novo Festival de Rock, o “ROCK JEANS”, que dura duas semanas no Playcenter - SP, onde foram contratados todos os grandes nomes do rock naquela época .
O MADE IN BRAZIL fez quatro apresentações e voltou a utilizar uma ala com oito ritmistas da Escola de Samba Mocidade Alegre da Casa Verde nas músicas “Banheiro” e “Simpathy for the Devil”. Nesses shows o grupo passa a contar novamente com o talento de Celso e “Babalu” nas guitarras.
ANOS 80 - A LUTA NA RESISTÊNCIA
Nos anos 80, quando o espaço para a música ao vivo diminui (e muito), devido ao modismo da época (a discoteque) e onde quase todos os grupos de rock não conseguem espaço e terminam - como O Terço, Casa das Máquinas, Rita Lee & Tutti Fruti, Som Nosso de Cada Dia - o MADE lança seu grito de guerra, “Minha Vida É Rock ‘n’ Roll”, e continua na estrada levando para todo o Brasil a bandeira do rock e um pouco de alegria para os que não suportavam ouvir o som “Disco” e nem freqüentar discotecas.
O rock continuava rolando e o MADE IN BRAZIL consegue se segurar, permanecendo na estrada, fazendo um trabalho de guerrilha contra o sistema, a mesmice e a caretice!!!
“MINHA VIDA É ROCK ‘N’ ROLL” - 4o DISCO
“Minha Vida É Rock ‘n’ Roll” é um disco quase auto-biográfico de Oswaldo, que a essa altura do campeonato já havia assumido os vocais definitivamente, após a saída de Caio Flavio e uma nova tentativa frustrada com Percy. O repertório do disco e do show mantém os temas básicos do MADE, mas o som melhora a cada novo produto, a cada apresentação. O MADE IN BRAZIL mais uma vez foi todo modificado na gravação desse disco; entraram os músicos Ricardo “Índio” na bateria, Joaquim e Eduardo nas guitarras, Rave “Javier” nos teclados, e mais as participações dos amigos “Babalu” e “Wander Taffo” nas guitarras, além de Rubinho nos teclados, Rubão e Cornélius nos baking vocals, Marinho, também teclados, e Dinho e Branca de Neve na percussão.
O lançamento acontece no Auditório da GV, (Fundação Getúlio Vargas), em julho de 1981 e depois em muitos shows pelas capitais e cidades do interior, terminando o ano com um grande concerto produzido por Oswaldo sob o nome de “Pela Paz Mundial”, homenagem à John Lennon, no Clube Palmeiras – SP, em dezembro.
O lançamento de “Minha Vida É Rock ‘n’ Roll“, no Rio de Janeiro, foi no Teatro Teresa Raquel em duas semanas de muito rock no paraíso do sol. O ano prossegue e o MADE continua com sua maratona de shows, entre capitais e cidades do interior.
Em 82, o MADE promove algumas festas comemorativas de 15 anos de carreira, em vários teatros de São Paulo, entre eles o Paulo Eiró, em Santo Amaro. No Rio, nova temporada no Teresa Raquel.
Novas composições marcam o ano de 83 com nova formação: entra Dimas “destruidor” Zanelli (bateria).
É sempre bom lembrar que o MADE introduziu no Brasil o som do Led Zeppelin, Black Sabbath, Deep Purple, entre outros, no final dos anos 60 e começo dos anos 70. Essas bandas, como é de conhecimento geral, foram as precursoras do heavy metal no mundo, e no Brasil, lógico, foi o MADE.
Para os vocais, foi recrutado novamente Cornélius “Lúcifer”, que com sua agressividade e poderosa garganta, se encaixava como uma luva nesse novo repertório pesado. Depois de alguns shows e programas de TV, o MADE é convidado a fazer parte de um disco, uma coletânea de heavy metal nacional, que a gravadora RGE viria a lançar com o nome de “Metal Rock”. O MADE IN BRAZIL com duas músicas: “Kamikase do Rock” e uma versão “Quente e Gostosa” (Whole Lotta Rosie), do grupo AC/DC, ambas com Cornélius nos vocais. A versão puxa a vendagem do disco, por conseqüência a gravadora contrata a banda para gravar mais um disco, que seria “Deus Salva, o Rock Alivia...”. Esses dois discos saem em 85.
O único porém é que Cornélius não participa do LP; por estar há muito tempo parado, não agüenta a maratona que é a seqüência de shows. Na verdade, quando a coletânea “Metal Rock” chegou às lojas ele já não estava na banda, o que foi uma pena pois ele continuava fora de série!!!
“DEUS SALVA, O ROCK ALIVIA...”
UMA PICHAÇÃO EM MURO VIRA DISCO DE METAL...
“Deus Salva, o Rock Alivia...“ (85) mostra um grupo afiado, flertando em suas letras com temas super atuais para a época, como “Malvinas (O Pessoal do Rock)”, sobre a guerra das Malvinas, Live Aids (A Revolta dos Deuses), sobre a AIDS, “Cometa Rock”, sobre a frustrante passagem do Cometa Halley, etc. A intenção de Oswaldo, ao entrar novamente em estúdio com o MADE, foi de tentar gravar um disco de rock pesado, realmente pesado, mas com harmonia e melodia, e com certeza atingiu seus objetivos, pois “Deus Salva, O Rock Alivia...” conseguiu ser um dos discos mais pesados já gravados no Brasil, com letras inteligentes e bem colocadas. A idéia para a música-tema saiu de uma pichação em um muro na Pompéia. Oswaldo leu a frase, gostou e daí compôs a música e a letra. O pessoal que gravou o disco foi: Oswaldo - vocal e baixo, Celso – guitarra, Daniel Geber – guitarra-solo e Nelson Pavão - bateria.
MADE - PIRATA – vol. I e II - ENFIM DOIS DISCOS GRAVADOS AO VIVO
No ano seguinte, em 86, o MADE IN BRAZIL lança dois discos, “MADE - PIRATA vol. I e II”, que foram gravados ao vivo em 84 no Teatro Lira Paulistana (SP). O projeto inicial era o de fazer um disco duplo, mas a gravadora RGE preferiu lançar dois discos com capas diferentes. Este trabalho esteve na gaveta por dois anos e só foi lançado devido ao sucesso de vendas do disco “Deus Salva, O Rock Alivia...”, aí a RGE comprou as fitas e os direitos de lançamento dos discos.
O MADE comemorou em 87 20 anos de carreira e de rock. Os shows correram o país culminando com uma série de apresentações em teatros de São Paulo: Paulo Eiró, Arthur Azevedo e Martins Pena, sendo que nesse último o show de sábado foi gravado pela TV Cultura de São Paulo, posteriormente sendo editado e colocado no ar num programa especial comemorativo dos “20 anos de carreira do MADE IN BRAZIL”. Para esses shows, foram ainda convidados muitos ex-integrantes que abrilhantaram a festa, como Caio Flávio, Cornélius, Fenilli, Nelson Pavão, Albert, Rick (filho de Osvaldo), Rubão e Beto Nardo, Franklin e Beto Gavioto, entre outros.
Nos dois anos seguintes (88 e 89) muitos shows, muita estrada para continuar levando o mais puro Rock por esses Brasis...
Como Oswaldo sempre diz: ”...É sempre bom poder cair na estrada e rodar esse Brasilzão, do Amazonas ao Rio Grande, levando o som que a garotada gosta e quer ouvir prá se esbaldar!!!...”.
ANOS 90 - O BLUES, A VOLTA ÀS ORIGENS
IN BLUES / 8ª DISCO - A volta ao Blues
Oswaldo vinha alimentando um sonho antigo de gravar um disco todo dedicado ao blues e rhythm ´n´ blues. Juntou um pessoal da pesada que também estava afins, trouxe Daniel Gerber novamente para a guitarra, convidou Mauro Antunes pra bateria, Wander Issa pros teclados, Edgard Chermont pro sax, Deborah Carvalho (que viria a ser a 5a Sra. Vecchione), Tibet e Ana Ayres pros backings e Joaquim Carlos Rendeiro Kelh para a guitarra. Oswaldo e Daniel compuseram a maioria das músicas, 5 ao todo, incluíram mais duas versões (uma de Freddie King e outra do T. Rex), deram uma roupagem de blues para “Carinhoso”, de Pixinguinha e João de Barros, um Boogie para homenagear a Pompéia, “Pompéia Boogie” e um blues tradicional, “Deixa Sangrar”.
Nos primeiros shows, em uma temporada no Teatro Sesc Pompéia (SP), em junho de 90, o disco foi gravado ao vivo em 16 canais por um estúdio móvel. O selo Vinil Records prepara o disco duplo com o nome de “IN BLUES...” mas marca touca, come sapo e, na velocidade de uma lesma paralítica, lança o disco com mais de 2 anos de atraso, em 92.
Quando Oswaldo teve a idéia do disco, o blues ainda não havia acontecido por aqui, e quando foi lançado, a história era outra, já havendo no mercado vários artistas e grupos de blues. Mas não importa, pois o MADE IN BRAZIL com certeza foi a primeira banda de Rock a gravar e divulgar o blues nesse lado do continente; basta lembrar e ouvir os discos gravados pelo MADE, que se vai achar muitos números de blues em todos, com exceção do LP “Deus Salva, O Rock Alivia...”.
Na verdade o MADE & Oswaldo e Celso Vecchione estavam empenhados desde o início dos anos 90 em resgatar as origens, em retornar ao início da banda, quando o repertório era quase todo calcado no som negro, de raiz, no blues e no rhythm ‘n’ blues .
E é com essa proposta, com o som de uma grande banda de blues & rock que o MADE IN BRAZIL começou e pretendeu atravessar os anos noventa.
Em 93 a gravadora BMG-ARIOLA lança a coletânea “ROCK” - Série Acervo, com a participação do MADE IN BRAZIL.
Em 94 e 95 o MADE volta a ser um dos grupos de rock e blues que mais se apresentam pelo Brasil. Foram quase 130 shows e apresentações, uma verdadeira façanha para uma banda que não está na mídia e que caminha com suas próprias pernas, sem ajuda de nenhuma gravadora ou grande empresário.
Voltando a 94, a BMG-ARIOLA repete a dose em grande estilo, lançando a coletânea (antologia) MADE IN BRAZIL - Série Acervo, com 14 músicas escolhidas dos quatro primeiros discos, gravados entre 74 e 80. Só inclui sucessos.
Em julho de 95 o MADE entra em estúdio mais uma vez para dar início às gravações de um novo disco, “SEXO, BLUES & ROCK ‘N’ ROLL”. Antes de iniciar as gravações, Rick Vecchione, sobrinho de Celso e filho de Oswaldo, assumia a bateria da banda. Apesar da pouca idade, Rick já pode ser considerado um baterista veterano, pois toca desde os 9 anos. Sua primeira experiência em banda de rock foi com o Power Trio “The Kids”, nos anos 80, quando por inúmeras vezes chegaram a abrir os shows do MADE, inclusive no Teatro Lira Paulistana, quando da gravação do disco In Blues.
O ano de 96 rola tranqüilo, com o MADE realizando muitos shows e dando seqüência às gravações de estúdio do novo disco.
30 ANOS DE ESTRADA – 67/97
No último dia de gravação de “Sexo, Blues & Rock ‘n’ Roll”, no final do mês de julho/97, com muito whisky e vinho alemão rolando em um agitado cocktail, alguns amigos representantes de todas as épocas e de quase todas as tendências do rock e que também carregam de longa data a bandeira, estiveram presentes e participaram do início das comemorações de 30 anos de banda e da gravação da música-tributo ao bairro da Pompéia (de onde a banda é originária), “Rock da Pompéia”. Entre eles: Nasi (IRA), Roger (ULTRAJE A RIGOR), Catalau (EX-GOLPE DE ESTADO), Pitt Passarel (VIPER), Paulão de Carvalho (VELHAS VIRGENS), Kid Vinil (VERMINOSE), Clemente (INOCENTES), Paulo Levy (BOCA ROXA BLUES BAND), Tony Campello, Simbas (CASA DAS MÁQUINAS), Nenê (OS INCRÍVEIS), Sérgio Hinds (O TERÇO), João Ricardo (SECOS & MOLHADOS) e os três primeiros vocalistas do MADE, Cornélius “Lucifer”, Percy Weiss e Caio Flávio.
Foram convidados para os backings vocals Ana “Furacão” Ares, Júlio “Juju” Ribeiro, Magaly Lieri e a Zezé. Para o naipe de metais foram recrutados Octavio Lopes Garcia “Bangla” (sax), Tay (trombone), José Carlos Martinez (trombone) e Alex Ribeiro (trompete).
Este novo disco é uma produção independente da própria banda, nele foi gravado 14 músicas, uma regravação de Mexa-se Boy”(Mannish Boy), de Muddy Waters e 13 novos temas, músicas inéditas, em algumas delas o ex-guitarrista Daniel Gerber volta a colaborar, compondo alguns temas em parceria com Oswaldo. As parcerias ainda inclui Deborah Carvalho, Luís Di Castro (Sangue da Cidade) e Celso.
O pessoal que gravou esse novo disco foi: Oswaldo Vecchione - vocal, baixo, guitarra, gaita e percussão, Celso Vecchione - guitarra, baixo e teclado, Rick Vecchione - bateria e Deborah Carvalho - vocal e percussão. Colaboraram ainda Wander Issa - teclado e baixo, Octavio “Bangla” Lopez - sax, e nas guitarras Antônio Medeiros “Babalu”, Serafim “Fim “Buontempi” e Alejandro “Ale” Marjanov. Fizeram ainda uma participação especial alguns amigos e astros do rock ‘n’ roll brasileiro como Sérgio Dias (Ex-Mutantes), André Christovam e Luís Carlini - guitarra, Charles Gavin (Titãs), Júnior (Rolando Castelo -Patrulha do Espaço) e Nelson Pavão (Ex- Made) - bateria.
O ano de 97 não foge a regra, foram muitos shows pelo Brasil. Com o final das gravações do novo disco, são programadas e agendadas varias visitas, contatos e entrevistas com gravadoras. O cd estava pronto, só faltando masterizar e esses encontros com diretores de várias gravadoras foi para mostrar o trabalho e tentar negociar a venda da fita master, como já haviam feito antes com o disco MADE – PIRATA (86), que foi comprado pela gravadora RGE .
“SEXO, BLUES & ROCK ‘N’ ROLL” - 9º CD
Em 98, como as negociações com as gravadoras não avançaram e não resultaram em nada de concreto, o pessoal do MADE toma coragem e resolve abrir um selo em uma pequena gravadora para lançar esse novo trabalho (e todos os próximos). O MADE IN BRAZIL RECORDS é inaugurado com o lançamento do 9º CD da banda, o interminável “SEXO, BLUES & ROCK ´N´ ROLL”, que consumiu 250 horas de estúdio em quase três anos de gravações. Aproveitando o embalo é relançado o disco duplo “IN BLUES” em CD que só havia saído em LP também pela MADE IN BRAZIL RECORDS.
Ainda em 98 Oswaldo tem a idéia de juntar os grupos de rock dos anos 70 em um projeto cultural de sua produtora chamado “HERÓIS DO ROCK”. O Terço, Tutti Frutti, Secos & Molhados, Bixo da Seda, Patrulha do Espaço, Blindagem, Pholhas, entre outros, são as bandas convidadas para participar dos festivais que são realizados em algumas capitais e em cidades do interior de São Paulo e Paraná.
No final de 98 e começo de 99 o MADE IN BRAZIL monta um novo show e cai na estrada com uma nova sonoridade, um show acústico, com um repertório escolhido a dedo pela banda e pelos fãs (músicas que não eram apresentadas em público há anos foram incluídas no programa do show a pedido dos fãs).
O resultado foi tão satisfatório, tão extraordinário, que o MADE IN BRAZIL começou a registrar em gravações alguns shows: dois realizados em Campinas/SP logo no início do ano, em fevereiro, antes do carnaval, e em setembro, no dia 8, acontece mais um show e mais uma gravação na capital em São Paulo, no Bourbon Street, um dos templos do blues no Brasil. A idéia é lançar um CD ACÚSTICO, tentando registrar a forte performance da banda no palco.
Esse CD ACÚSTICO será o 10º disco do MADE e o terceiro gravado “ao vivo”. O MADE IN BRAZIL tenta explorar mais uma vez o seu forte, que são as apresentações nos shows, pois no palco eles são quase imbatíveis, poucas bandas de rock e blues no Brasil e no mundo tocam com tanto tesão, alegria e vibração.
Obs: O texto da biografia do MADE IN BRAZIL foi baseado em arquivos de matérias de imprensa, fotos e depoimentos de Oswaldo e Celso Vecchione e em biografias publicadas na imprensa como:
Revista “ROCK A HISTÓRIA E A GLÓRIA” - Ezequiel Neves.
Revista / Poster - SOM TRÊS - Leopoldo Rey.
Revista ROCK BRIGADE - Antônio “Tony” Monteir
Fonte: http://www.madeinbrazilrock.com.br
Nenhum comentário:
Postar um comentário