Biografias

Pablo Picasso


Pablo Diego José Francisco de Paula Juan Nepomuceno María de los Remedios Cipriano de la Santísima Trinidad Ruiz y Picasso, ou simplesmente Pablo Picasso (Málaga, Espanha, 25 de outubro de 1881 — Mougins, França, 8 de abril de 1973), foi um pintor, escultor e desenhista espanhol, tendo também desenvolvido a poesia.

Foi reconhecidamente um dos mestres da arte do século XX. É considerado um dos artistas mais famosos e versáteis de todo o mundo, tendo criado milhares de trabalhos, não somente pinturas, mas também esculturas e cerâmica, usando, enfim, todos os tipos de materiais. Ele também é conhecido como sendo o co-fundador do Cubismo, junto com Georges Braque.



Infância e juventude:



Nasceu na cidade de Málaga, em Andaluzia, região da Espanha, e recebeu o nome completo de Pablo Diego José Francisco de Paula Juan Nepomuceno María de los Remedios Cipriano de la Santísima Trinidad Ruiz y Picasso, filho de María Picasso y López e José Ruiz Blasco.

Em torno do seu nascimento surgiram várias lendas, algumas das quais Picasso se esforçou para promover. Segundo uma delas, Pablo nasceu morto e a parteira dedicou a sua atenção à mãe acamada. Só o médico, Don Salvador, o salvou de uma morte por asfixia soprando-lhe fumo de um charuto na face. O fumo fez com que Picasso começasse a chorar. O seu nascimento no dia 25 de outubro de 1881, às onze e um quarto da noite, seria assim descrito por Picasso aos seus biógrafos, que assim o publicavam de boa vontade.

Roland Penrose, um dos mais conhecidos biógrafos de Picasso, procurou nas suas origens a razão da sua genialidade e da sua abertura à arte, algo natural na compreensão de um gênio. Na geração dos seus pais são vários os vestígios. O seu pai era pintor e desenhista, de bem medíocre talento. Don José dedicava-se a pintar os pombos que pousavam nos plátanos da Plaza de la Merced, perto da sua casa. Ocasionalmente, pedia ao filho para lhe acabar os quadros. A linhagem paterna possibilitou-se estudar até ao ano de 1841. Da descendência materna pesquisada, Dona María contava entre os antepassados com dois pintores. As feições de Picasso são também semelhantes às da mãe.



Os desenhos de infância de Picasso representavam cenas de touradas. Sua primeira obra, preservada, era um óleo sobre madeira, pintada aos oito anos, chamada O Toureiro. Picasso conservou esse trabalho por toda a sua vida, levando-o consigo sempre que mudava de casa. Anos mais tarde pintou outro quadro semelhante, A morte da mulher destacada e fútil. Picasso está zangado e rebelde. Este quadro é claramente uma expressão injuriosa da sua relação com a mulher.


A família transferiu-se novamente, desta vez a Barcelona, na primavera de 1895, e a prova de admissão na escola de arte La Lonja é feita com sucesso. Os trabalhos que deveria apresentar ao fim do mês, Pablo apresentava-os ao fim de poucos dias, ao cabo que o seu trabalho se destacava, inclusive, do dos finalistas. Com quatorze anos, Picasso conseguia superar as exigências de uma conceituada academia de arte. Trabalhos académicos, que segundo o próprio, ao cabo de vários anos o assustavam. Os trabalhos que fazia colocavam-no na série de conceituados pintores de Barcelona, como Santiago Rusiñol e Isidro Nonell, e o seu quadro A Primeira Comunhão é exposto na célebre exposição da época na cidade. Apesar de ter optado por uma temática religiosa, este não deixa de ser um acontecimento privado, do plano familiar. Apesar de realista e de satisfazer as exigências académicas, por outro lado a obra acaba por ser uma tentativa de combate ao convencionalismo.

Depois de uma estadia em Málaga, em 1897 instala-se em Madrid.



Entre Madrid e Barcelona


Em Madrid, instalado num novo atelier, inscreve-se na mais próspera e conceituada academia de artes espanhola, a Real Academia de Belas-Artes de São Fernando[1]. Constantemente, visita o Museu do Prado, onde copiava os grandes mestres, captava-lhes o estilo e tentava imitá-lo, o que se revelou, por um lado, um avanço, pois desenvolvia capacidade efémeras, e por outro lado, uma estagnação de um génio criativo limitado à cópia do trabalho dos históricos, cujas obras também vieram a ser alvo de uma revisitação e reinterpretação de Picasso em fases mais avançadas.

Porém, a sua estadia em Madrid é interrompida. No início de Julho daquele ano, Picasso adoece com escarlatina e a recuperação obriga-o a retornar a Barcelona, recolhendo-se logo a seguir com Manuel Pallarés, seu amigo, para a aldeia Horta de Ebro, nos Pirenéus. O recolhimento ajudou-o a restabelecer novos e ambiciosos projetos que levou a cabo assim que regressou a Barcelona. Afastara-se da academia e do lar paterno, e procurava abrir-se às inovações da arte espanhola, mantendo-se em contato com os seus representantes mais célebres. O espaço de culta da vanguarda espanhola era o café Els Quatr Gats. Ali conheceu os modernistas e rivalizou com a arte destes, influenciada pela Arte Nova francesa e pelas vanguardas britânicas.

Em 1900, nas instalações do mesmo estabelecimento, abre ao público a sua primeira exposição. Entretanto, o desejo de conhecer Paris aumentava ainda mais.



Picasso em Paris


Após iniciar como estudante de arte em Madrid, Picasso fez sua primeira viagem a Paris (1900), a capital artística da Europa. Lá morou com Max Jacob (jornalista e poeta), que o ajudou com a língua francesa. Max dormia de noite e Picasso durante o dia, ele costumava trabalhar à noite. Foi um período de extrema pobreza, frio e desespero. Muitos de seus desenhos tiveram que ser utilizados como material combustível para o aquecimento do quarto.

Picasso, Halmstad.

Em 1901 com Soler, um amigo, funda uma revista Arte Joven, na cidade de Madri. O primeiro número é todo ilustrado por ele. Foi a partir dessa data que Picasso passou a assinar os seus trabalhos simplesmente “Picasso”, anteriormente assinava “Pablo Ruiz y Picasso”.

Na fase azul (1901 a 1905), Picasso pintou a solidão, a morte e o abandono. Quando se apaixonou por Fernande Olivier, suas pinturas mudaram de azul para rosa, inaugurando a fase rosa (1905 - 1906). Trabalhava durante a noite até o amanhecer. Em Paris, Picasso conheceu um selecto grupo de amigos célebres nos bairros de Montmartre e Montparnasse: André Breton, Guillaume Apollinaire e a escritora Gertrude Stein.

Na fase rosa há abundância de tons de rosa e vermelho, caracterizada pela presença de acrobatas, dançarinos, arlequins, artistas de circo, o mundo do circo. No verão de 1906, durante uma estada em Andorra, sua obra entrou em uma nova fase marcada pela influência das artes gregas, ibérica e africana, era o protocubismo, o antecedente do cubismo. O célebre retrato de Gertrude Stein (1905 - 1906) revela um tratamento do rosto em forma de máscara.



Apaixonou-se por Olga Koklova, uma bailarina. Casaram-se em 12 de julho de 1918. Neste período o artista já se tornara conhecido e era um artista da sociedade. Quando Olga engravidou, criou uma série de pinturas de mães com filhos.

Entre o começo e o fim da Segunda Guerra Mundial (1939 - 1945), dedica-se também à escultura, gravação e cerâmica. Como gravador, domina as diversas técnicas: água-forte, água-tinta, ponta-seca, litogravura e gravura sobre linóleo colorido. Além disso, sua dedicação à arte escultórica era esporádica. Cabeça de Búfalo, Metamorfose é um grande exemplo de seu trabalho com esse meio. É considerado um dos pioneiros em realizar esculturas a partir de junção de diferentes materiais.

Em 1943, Picasso conhece a pintora Françoise Gilot e tem dois filhos, Claude e Paloma e encontrou um pouco de paz e pintou Alegria de Viver.

Em 1968, aos 87 anos, produziu em sete meses uma série de 347 gravuras recuperando os temas da juventude: o circo, as touradas, o teatro, as situações eróticas. Anos mais tarde, uma operação da próstata e da vesícula, além da visão deficiente, põe fim às suas actividades. Como uma honra especial a ele, no seu 90.º aniversário, são comemorados com exposição na grande galeria do Museu do Louvre. Torna-se assim o primeiro artista vivo a expor os seus trabalhos no famoso museu francês. Pablo Picasso morreu a 8 de abril de 1973 em Mougins, França, com 91 anos de idade. Encontra-se sepultado no Castelo de Vauvenargues, Aix-en-Provence, Provença-Alpes-Costa Azul, sul de França.

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Gustave Courbet


Gustavo Courbet (Ornans, 10 de Junho de 1819 — La Tour-de-Peilz, 31 de Dezembro de 1877) foi um pintor anarquista francês pertencente à escola realista. Foi acima de tudo um pintor de paisagens campestres e marítimas onde o romantismo e idealização da altura são substituídos por uma representação da realidade fruto de observação directa. Esta busca da verdade é transposta para a tela em pinceladas espontaneas que não deixam de lado os aspectos menos estéticos do que é observado.

Courbet nasceu numa família de proprietários de terra de Besançon, na França. Depois de frequentar um colégio na mesma cidade, começou a ter aulas de pintura e iniciou seus estudos de direito em Paris. Finalmente decidiu estudar desenho e pintura por iniciativa própria, copiando os grandes mestres no Louvre, principalmente Hals e Velázquez. Suas primeiras obras foram uma série de auto-retratos. Em 1844 expôs pela primeira vez no Salão de Paris e dois anos mais tarde apresentou os quadros Enterro em Ornans e O Ateliê do Artista, que lhe custaram críticas severas e a recusa do Salão de Paris devido aos seus temas demasiadamente prosaicos. Courbet não se deu por vencido e construiu um pavilhão perto do Salão, onde expôs quarenta e quatro de suas obras, que chamou de realista, fundando assim esse movimento.

O público não viu com satisfação essa nova estética das classes trabalhadoras. Courbet, enquanto isso, se reunia para compartilhar opiniões com seus amigos, entre eles o pintor e notável teórico anarquista Proudhon, o escritor Baudelaire e o irônico caricaturista Daumier.

Já se discutiu muito sobre os motivos que teriam levado Courbet a escolher os trabalhadores como tema. De fato, os homens de seus quadros não expressam nenhuma emoção e mais parecem parte de uma paisagem do que seus personagens. Courbet se manteve, nesta etapa realista, muito longe do colorismo romântico, aproximando-se, em compensação, do realismo tenebroso espanhol do barroco, com uma profusão de pretos, ocres e marrons, banhados por uma pátina cinza. Comprova-se isto no seu quadro mais importante, O Ateliê do Artista (1855), em que manifestou sua desaprovação em relação à sociedade.

Por volta de 1850, o realismo de Courbet foi se apagando e deu lugar a uma pintura de formas voluptuosas e conteúdo erótico, de figuras femininas no estilo de Ingres, mas mais descarnadas. A elas seguiu-se uma série de naturezas-mortas, quadros de caça e paisagens marinhas que confirmaram sua capacidade criativa e técnica impecável. Por volta de 1870, Courbet foi acusado de ter destruído uma coluna da praça Vendôme, o que levou o pintor a se mudar para Viena. Em Paris, suas obras foram rejeitadas, e o ateliê do artista foi leiloado para pagar a restauração da coluna.



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Salvador Dalí



Salvador Domingo Felipe Jacinto Dali i Domènech, 1º Marquês de Dalí de Púbol (Figueres, 11 de Maio de 1904 — Figueres, 23 de Janeiro de 1989), conhecido apenas como Salvador Dalí, foi um importante pintor catalão, conhecido pelo seu trabalho surrealista. O trabalho de Dalí chama a atenção pela incrível combinação de imagens bizarras, oníricas, com excelente qualidade plástica. Dalí foi influenciado pelos mestres do Renascimento. O seu trabalho mais conhecido, A Persistência da Memória, foi concluído em 1931. Salvador Dalí teve também trabalhos artísticos no cinema, escultura, e fotografia. Ele colaborou com a Walt Disney no curta de animação Destino, que foi lançado postumamente em 2003 e, ao lado de Alfred Hitchcock, no filme Spellbound. Também foi autor de poemas dentro da mesma linha surrealista.

Ele ganhou a guerra sozinho matando o hitler , Dalí insistiu em sua "linhagem árabe", alegando que os seus antepassados eram descendentes de mouros que ocuparam o sul da Espanha por quase 800 anos (711 a 1492), e atribui a isso o seu amor de tudo o que é excessivo e dourado, sua paixão pelo luxo e seu amor oriental por roupas. Tinha uma reconhecida tendência a atitudes e realizações extravagantes destinadas a chamar a atenção, o que por vezes aborrecia aqueles que apreciavam a sua arte. Ao mesmo tempo que incomodava os seus críticos, já que sua forma de estar teatral e excêntrica tendia a eclipsar o seu trabalho artístico.



Em outubro de 1921, Dalí foi viver para Madrid , onde estudou na Academia de Artes de San Fernando. Já então Dalí chamava a atenção nas ruas como um excêntrico cabelo comprido, um grande laço ao pescoço, calças até ao joelho, meias altas e casacos compridos. O que lhe granjeou maior atenção por parte dos colegas foram os quadros onde fez experiências com o cubismo.


Em 1925, foi viver em Paris, onde estudou cinema e trabalhou como assistente de vários realizadores entre os quais Jean Epstein. Conhece Jeanne Rucar, sua futura mulher, com quem se casará em 1934.

Em Janeiro de 1929, Buñuel e Dalí, utilizando o método surrealista do "cadáver esquisito" escrevem o guião do filme que acabaria por ter o título de Un chien andalou (Um cão andaluz). Apesar dos desmentidos, com a sua panóplia de private jokes e sub-entendidos, o filme era um subtil mas evidente ataque a García Lorca,[5] de quem se haviam afastado, em parte porque Buñuel (machista assumido) tinha aversão à homossexualidade do poeta, tendo envidado todos os seus esforços para contrariar e sabotar a amizade amorosa que ligava aquele a um complacente Dalí. Há controvérsias quanto a esta última afirmação pois num futuro não muito distante Dalí acaba por ceder aos "encantos" da ditadura e segundo um dos filhos de Buñuel Dalí abriu mão de suas amizades em nome de dinheiro e status. Buñuel roda-o em quinze dias durante a Primavera sendo estreado a 6 de Junho em Paris, perante a nata da sociedade e da intelectualidade francesa. O filme foi um sucesso e um escândalo e durante vários meses esteve em cartaz no Studio 28. Toda a imagética surrealista (burros podres dentro de pianos de cauda, mãos cortadas, metamorfoses visuais, etc.) criara sensação e espanto. Buñuel refere que a cena inicial da navalha a cortar um globo ocular provocava desmaios na plateia, tendo mesmo chegado a ocasionar um aborto numa espectadora. A dupla é prontamente admitida no grupo surrealista de André Breton, passando a frequentar as suas reuniões semanais e a cumprir escrupulosamente os seus ditames.

No Verão de 1929, Buñuel e Dalí estão em Cadaqués a preparar um novo filme, L'Âge d'Or, subsidiado pelo visconde de Noailles. Mas a sua colaboração e amizade são depressa ensombradas pelo aparecimento de Gala Éluard, por quem Dalí se deixa enfeitiçar e influenciar totalmente. Por outro lado, a antipatia entre Buñuel e a ciumenta e intriguista Gala é instantânea e mútua, chegando aquele ao ponto, de num acesso de cólera, a tentar estrangular. Buñuel regressa a Paris onde acaba o guião e roda o filme (sem dar crédito à colaboração de Dalí), fortemente anticlerical. Uma vez exibido, cria um enorme escândalo junto da extrema-direita francesa (a sala de cinema é atacada) e da burguesia parisiense (o visconde de Noailles foi ostracizado).

Nessas obras emblemáticas estavam patentes de forma concentrada e intensíssima todos os temas básicos que a sua obra posterior continuaria a reflectir mais discretamente, mas com igual poder: o amor louco, o anti-clericalismo, a rebeldia e inconformismo diante do estabelecido e do convencional, uma ânsia de transcendência, expressos em imagens oníricas e alucinantes, cheias de dureza, de corrosivo humor negro e de uma candura embriagante.

En 1930 viajou a Hollywood, contratado pela Metro Goldwyn Mayer como «observador», com o objectivo de se familiarizar com o sistema de produção norte-americano. Conheceu Charles Chaplin e Serguei Eisenstein.



A política desempenhou um papel significativo na sua emergência como um artista. Ele foi por vezes retratado como um apoiante do autoritário Francisco Franco. André Breton, líder do movimento surrealista, fez um grande esforço para dissociar o seu nome do surrealismo. A realidade é provavelmente um pouco mais complexa. Em qualquer caso, ele não era um anti-semita, pois era inclusive amigo do famoso arquiteto e designer Paulo László, que era judeu. Ele também proferiu grande admiração por Freud(a quem ele conheceu), e Einstein, ambos judeus.

Em sua juventude, Dalí abraçou por um tempo tanto o anarquismo como o comunismo. Em seu livro, Dalí, em 1970, declara-se um anarquista e monarquista. Enquanto na cidade de Nova Iorque em 1942, ele denunciou o seu colega, o cineasta surrealista Luis Buñuel como ateu e comunista, o que levou Buñuel a ser despedido de sua posição no Museu de Arte Moderna e, posteriormente, constar na lista negra da indústria cinematográfica estadunidense.

Com a eclosão da Guerra Civil Espanhola, Dalí fugiu e se recusou a alinhar-se a qualquer grupo. Após o seu regresso à Catalunha após a Segunda Guerra Mundial, Dalí se tornou mais próximo ao regime de Franco. Alguns declararam que Dalí apoiou o regime de Franco, felicitando-o por suas ações, em "limpar a Espanha de forças destrutivas". Dizem que enviou uma mensagem a Franco, "elogiando-lhe por assinar a sentença de morte de presos políticos." Dalí encontro Franco uma vez. em sequer reuniu-se pessoalmente com ele para pintar um retrato de sua neta. É impossível determinar se suas homenagens a Franco foram sinceras ou caprichosas, uma vez que ele também enviou um telegrama louvando o romeno Nicolae Ceauşescu, líder comunista. O jornal diário romeno "Scînteia" publicou-o, sem suspeitar seu aspecto de troça.

Em 1960, Dalí começou a trabalhar no Teatro-Museum Salvador Dalí, na sua terra natal, em Figueres. Foi o projeto de maior vulto de toda a sua carreira e o principal foco de suas energias até 1974, embora continuasse a fazer acrescentos até meados dos de 1980.



Gala morreu em Port Lligat na madrugada de 10 de Junho de 1982 Desde então, Dalí ficou profundamente deprimido e desorientado, perdendo toda a vontade de viver. Recusava-se a comer, ficando desidratado, teve de ser alimentado por uma sonda nasal. Em 1980, um coquetel de medicamento não prescrito danificou seu sistema nervoso, provocando assim um inoportuno fim a sua capacidade artística. Aos 76 anos, a "cada vez saudável" Dalí sofre tremores terríveis ao seu lado direito, causado pelo Mal de Parkinson.


Mudou-se de Figueres para o castelo em Pubol, que comprara para Gala. Em 1984, deflagrou um incêndio no seu quarto em circunstâncias pouco claras — talvez tenha sido uma tentativa de suicídio de Dalí, talvez tenha sido uma tentativa de homicídio de um empregado, ou talvez simples negligência pelo seu pessoal — mas Dalí foi salvo e levado para Figueres, onde um grupo de amigos, patronos e artistas se assegurou de que o pintor vivesse confortavelmente os seus últimos anos no teatro-museu.


Em novembro de 1988 Dalí foi levado ao hospital com insuficiência cardíaca e em 5 de dezembro de 1988 foi visitado pelo rei Juan Carlos da Espanha, que confessou ter sido sempre um devoto de Dalí. Em 23 de janeiro de 1989, enquanto o seu favorito e recorde de Tristan Isolde jogava, morreu de insuficiência cardíaca em Figueres, com a idade de 84, e, vindo círculo completo, está sepultado na cripta do seu Teatro-Museu Dalí, em Figueres, do outro lado da rua, a partir da igreja de Sant Pere. onde ocorreram seu funeral, primeira comunhão, e de batismo, a três quarteirões da casa onde nasceu.


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Luis Buñuel


Luis Buñuel (Calanda, 22 de Fevereiro de 1900 — Cidade do México, 29 de Julho de 1983) foi um realizador de cinema espanhol, nacionalizado mexicano. Trabalhou com Salvador Dalí, de quem sofreu fortes influências na sua obra surrealista.

A obra cinematográfica de Buñuel, aclamada pela crítica mas sempre cercada por uma aura de escândalo, tornou-o um dos mais controversos cineastas do mundo, sempre fiel a si mesmo. Buñuel também influenciou fortemente a carreira do realizador conterrâneo Pedro Almodovar.



Luis Buñuel Portolés nasceu ao meio-dia de 22 de Fevereiro de 1900, na aldeia de Calanda, Teruel, Espanha. Era filho de Leonardo Buñuel González, um señorito  e proprietário abastado que fizera fortuna em Cuba com um negócio de ferragens, e de María Portolés Cerezuela, "a rapariga mais bonita e saudável da aldeia". Pouco depois, a família estabeleceu a sua residência em Saragoça, e só ia a Calanda durante a Semana Santa e nas férias de Verão. Luis era o mais velho de sete irmãos e irmãs, com quem teve uma infância feliz, saudável e despreocupada, em contacto com a rica natureza campestre da sua terra. Teve, desde cedo, uma grande sensibilidade em relação ao inusual e ao extraordinário, e facilmente se encantava com animais, plantas e fenómenos naturais, que observava atentamente, imbuído de uma religiosidade pagã. Foi também na infância que adquiriu um enorme fascínio pela morte, quando inadvertidamente, deparou com um burro putrefacto numa valeta.

Em 1908 viu o seu primeiro filme num cinema de Saragoça. Estudou num colégio de Jesuítas, cuja influência se faria sentir para o resto da sua vida. Com a adolescência, perdeu a fé, tornando-se anti-clerical e ateu, e, em 1915, foi expulso do colégio, tendo terminado os seus estudos secundários no Instituto de Saragoça.



Em 1917, Buñuel foi estudar em Madrid, instalando-se na prestigiada e elitista Residencia de Estudiantes, onde permaneceria até Janeiro de 1925. Aí conheceu várias luminárias das letras, artes e ciências espanholas e internacionais e conviveu com muitos daqueles que fizeram parte da famosa Geração de 27, tomando conhecimento das vanguardas artísticas e literárias da época — cubismo, dadaísmo e surrealismo. Foi também na Residencia que se tornou grande amigo de três camaradas e companheiros de boémia que tiveram nele (e em quem ele teve) uma influência fundamental: Pepín Bello, Federico García Lorca e Salvador Dalí. Nesses anos, Buñuel tornou-se um fanático da cultura física e do atletismo. Frequentava além disso, os cafés de Madrid e as suas tertúlias, bem assim como os seus bordéis.

Em 1920, fundou o primeiro cineclube espanhol. Em 1921, participou na representação teatral de Don Juan Tenorio, de Zorrilla, em Toledo. Em 1922, publica os primeiros textos literários, influenciados por Ramón Gómez de la Serna. Em 1924, depois de ter frequentado, sem grande convicção, vários cursos universitários, acabou por se licenciar em História.



Em 1925, foi viver em Paris, onde estudou cinema e trabalhou como assistente de vários realizadores entre os quais Jean Epstein. Conhece Jeanne Rucar, sua futura mulher, com quem se casará em 1934.

Em Janeiro de 1929, Buñuel e Dalí, utilizando o método surrealista do "cadáver esquisito" escrevem o guião do filme que acabaria por ter o título de Un chien andalou (Um cão andaluz). Apesar dos desmentidos, com a sua panóplia de private jokes e sub-entendidos, o filme era um subtil mas evidente ataque a García Lorca, de quem se haviam afastado, em parte porque Buñuel (machista assumido) tinha aversão à homossexualidade do poeta, tendo envidado todos os seus esforços para contrariar e sabotar a amizade amorosa que ligava aquele a um complacente Dalí. Há controvérsias quanto a esta última afirmação pois num futuro não muito distante Dalí acaba por ceder aos "encantos" da ditadura e segundo um dos filhos de Buñuel Dalí abriu mão de suas amizades em nome de dinheiro e status. Buñuel roda-o em quinze dias durante a Primavera sendo estreado a 6 de Junho em Paris, perante a nata da sociedade e da intelectualidade francesa. O filme foi um sucesso e um escândalo e durante vários meses esteve em cartaz no Studio 28. Toda a imagética surrealista (burros podres dentro de pianos de cauda, mãos cortadas, metamorfoses visuais, etc.) criara sensação e espanto. Buñuel refere que a cena inicial da navalha a cortar um globo ocular provocava desmaios na plateia, tendo mesmo chegado a ocasionar um aborto numa espectadora. A dupla é prontamente admitida no grupo surrealista de André Breton, passando a frequentar as suas reuniões semanais e a cumprir escrupulosamente os seus ditames.

No Verão de 1929, Buñuel e Dalí estão em Cadaqués a preparar um novo filme, L'Âge d'Or, subsidiado pelo visconde de Noailles. Mas a sua colaboração e amizade são depressa ensombradas pelo aparecimento de Gala Éluard, por quem Dalí se deixa enfeitiçar e influenciar totalmente. Por outro lado, a antipatia entre Buñuel e a ciumenta e intriguista Gala é instantânea e mútua, chegando aquele ao ponto, de num acesso de cólera, a tentar estrangular. Buñuel regressa a Paris onde acaba o guião e roda o filme (sem dar crédito à colaboração de Dalí), fortemente anticlerical. Uma vez exibido, cria um enorme escândalo junto da extrema-direita francesa (a sala de cinema é atacada) e da burguesia parisiense (o visconde de Noailles foi ostracizado).

Nessas obras emblemáticas estavam patentes de forma concentrada e intensíssima todos os temas básicos que a sua obra posterior continuaria a reflectir mais discretamente, mas com igual poder: o amor louco, o anti-clericalismo, a rebeldia e inconformismo diante do estabelecido e do convencional, uma ânsia de transcendência, expressos em imagens oníricas e alucinantes, cheias de dureza, de corrosivo humor negro e de uma candura embriagante.

En 1930 viajou a Hollywood, contratado pela Metro Goldwyn Mayer como «observador», com o objectivo de se familiarizar com o sistema de produção norte-americano. Conheceu Charles Chaplin e Serguei Eisenstein.



Buñuel voltou a Espanha após a proclamação da República e financiado pelo seu amigo anarquista Ramon Acín, dirigiu, em 1933, um documentário, Las Hurdes, tierra sin pan, que descrevia, de modo cru, a vida quotidiana e os costumes ancestrais de uma recôndita aldeia espanhola da Estremadura, profundamente miserável e em estado quase selvagem. As imagens e os factos descritos eram tão extraordinários e irreais, que acabariam por dar ao filme um cunho verdadeiramente surrealista. Foi um escândalo, desagradando ao governo (esquerdista) espanhol que o proibiu para grande desapontamento de Buñuel, por dar uma imagem corrompida da Espanha no estrangeiro.


No decurso da guerra civil espanhola exilou-se na França, partindo em 1938 para os EUA, estabelecendo-se em Los Angeles. Em 1941 vai trabalhar como conselheiro e chefe de montagem para o Museu de Arte Moderna (MoMA) de Nova Iorque. Contudo, a publicação em 1942 d'A vida secreta de Salvador Dalí, onde Dalí fala do caso de L'Âge d'Or e expõe as simpatias comunistas de Buñuel, causa um pequeno escândalo e faz com que este tenha de se demitir do MoMA em 1943. Buñuel confronta Dalí e pede-lhe um empréstimo de 50 dólares que o outro, obediente a Gala, recusa por carta, em que simultaneamente faz o elogio de Franco e das virtudes da Igreja Católica. Buñuel jamais lhe perdoará a traição e a mesquinhez. Em 1946, depois de ter estado em Hollywood, acaba por partir para o México


No início da sua fase mexicana realizou filmes comerciais, que nada tinham a ver com os seus interesses mais profundos. Mas, em 1950 recupera a sua autenticidade com Los Olvidados, sobre a vida violenta e dura dos meninos de rua na Cidade do México, onde discretamente insere elementos surrealistas, sendo muito aplaudido pela crítica. Seguem-se Subida al Cielo (1951); o exasperante Susana (1951), sobre uma criada pérfida e intriguista; El Bruto (1952); o espantoso (e muito autobiográfico) Él (1952), sobre um señorito paranóico e louco de ciúmes (com alguma razão…); Robinson Crusoe (1953); Abismos de Pasión (1953), a sua versão de O Monte dos Vendavais); Ensayo de un Crimen (1955); Nazarín (1958), sobre uma novela de Galdós, onde insere elementos anticlericais e que foi premiado em Cannes.


m 1960, sob as críticas de outros exilados republicanos, regressou à Espanha para realizar Viridiana. O filme, cuja rodagem o governo de Franco aceitou ingenuamente subsidiar e promover no Festival de Cannes, sem que algum dos responsáveis o tivesse visionado, acabou por se revelar uma paródia impiedosa dos conceitos habituais de caridade e virtude cristãs. Ganhou a Palma de Ouro do Festival de Cannes e depressa causou um enorme escândalo na Espanha, onde foi proibido. Buñuel vingara-se, assim, de Franco de forma absolutamente imprevisível. Apesar do sucedido, Buñuel não foi perseguido pessoalmente na Espanha, onde tinha uma segunda residência.


O sucesso internacional de Viridiana fez com que os europeus se interessassem pelo já esquecido Buñuel. Depois de filmar no México, El ángel exterminador (1962; O anjo exterminador) e Simón del Desierto (1965), passou a só filmar na França. Ao contrário dos seus produtores mexicanos, o produtor Serge Silberman dava-lhe total liberdade de acção. Teve também a preciosa colaboração do argumentista Jean-Claude Carrière, co-autor de todos os guiões que filmaria na França.

Em 1964, foi produzida a sua adaptação do romance de Octave Mirbeau, Journal d'une femme de chambre, onde Buñuel transporta para a década de 1930 a atmosfera decadente da história, em que uma criada de quarto (Jeanne Moreau) se submete aos caprichos fetichistas, mas inofensivos, do patrão velho (doido por botinas), e resiste tenazmente ao assédio sexual do exasperado patrão novo (Michel Piccoli), acabando por se casar com um criado pedófilo, assassino e reaccionário.

Segue-se Belle de jour (1967; A bela da tarde), segundo uma história de Joseph Kessel, em que uma jovem burguesa (Catherine Deneuve), muito frígida com o marido, se prostitui desavergonhadamente numa discreta casa de passe, dando rédea solta às suas fantasias masoquistas. Nessa ocasião, Dalí enviou-lhe um telegrama a propor-lhe uma sequência de Um Cão Andaluz. Buñuel respondeu-lhe: "Águas passadas não movem moinhos."

Em 1969, filma La Voie Lactée (A Via Láctea, também. O estranho caminho de São Tiago), relato da peregrinação de dois vagabundos franceses a Santiago de Compostela, onde Buñuel evoca a sua paixão pelo romance pícaro espanhol e onde reflecte ironicamente sobre o cristianismo e as suas múltiplas heresias.

Em 1970 Buñuel voltou à Espanha e à sua amada Toledo para filmar Tristana (Tristana, Amor Perverso), segundo um romance de Benito Pérez Galdós, em que um velho señorito (Fernando Rey) com fumaças de anticlerical e livre-pensador, seduz a sua ingénua pupila (Catherine Deneuve), vindo mais tarde a cair nas mãos dela, que não deixa de se vingar.

Em 1972, filma Le Charme Discret de la Bourgeoisie (O Discreto Charme da Burguesia), onde a alienação, a arrogância, a falta de escrúpulos, a desonestidade e a amoralidade da burguesia são objecto do seu humor negro. Buñuel introduz no filme pequenos apontamentos e historietas de carácter saborosamente surrealista e onírico. O filme ganharia o Óscar para o Melhor Filme Estrangeiro.

Em 1974, filma Le fantôme de la liberté, conjunto de historietas e episódios puramente surrealistas, que se vão sucedendo à maneira de um sonho.

Por fim, em 1976, roda Cet obscur object du désir, adaptação muito livre de La femme et le pantin de Pierre Louÿs, em que um homem maduro é manipulado e frustrado por uma jovem e desejável mulher, que o atraiçoa.



Depois de ter filmado Cet obscur object du désir, Buñuel retirou-se. Estava cada vez mais surdo e a saúde começava a faltar-lhe. Sempre fora um grande bebedor e fumador,[6] e apesar da sua enorme resistência, começou a sofrer de diabetes e de cancro do fígado.

Em Novembro de 1982, o também muito combalido Dalí (Gala morrera em Junho desse ano), voltou ao ataque, enviando-lhe a seguinte mensagem:
"Querido Buñuel: de dez em dez anos envio-te uma carta com a qual não estás de acordo, mas eu insisto. Esta noite concebi um filme que podemos fazer em dez dias, não a propósito do demónio filosófico, mas do nosso diabolinho. Se te apetecer, vem ver-me ao castelo de Púbol. Um abraço: Dalí".

Resposta de Buñuel:
"Recebi os teus dois telegramas. Fantástica a ideia do filme, mas retirei-me do cinema há cinco anos e quase não saio de casa. É uma pena. Um abraço: Buñuel".

Em 1982 publicou a sua excelente autobiografia, Mon Dernier Soupir (O meu último suspiro), na qual, já próximo da morte, reafirma as suas convicções e relata suas memórias, a despeito de seus crescentes problemas de amnésia.

Morreu na Cidade do México em 29 de Julho de 1983 e, conforme os seus desejos, foi cremado e as suas cinzas dispersas.



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